quinta-feira, 17 de março de 2011

Temor (Hora de Delírio)

Não, não é louco. O espírito somente 
É que quebrou-lhe um elo da matéria. 
Pensa melhor que vós, pensa mais livre, 
Aproxima-se mais à essência etérea. 
  
Achou pequeno o cérebro que o tinha:  
Suas idéias não cabiam nele; 
Seu corpo é que lutou contra sua alma, 
E nessa luta foi vencido aquele. 
  
Foi uma repulsão de dois contrários; 
Foi um duelo, na verdade insano: 
Foi um choque de agentes poderosos: 
Foi o divino a combater com o humano. 
  
Agora está mais livre. Algum atilho 
Soltou-se-lhe do nó da inteligência; 
Quebrou-se o anel dessa prisão de carne, 
Entrou agora em sua própria essência. 
  
Agora é mais espírito que corpo: 
Agora é mais um ente lá de cima; 
É mais, é mais que um homem vão de barro: 
É um anjo de Deus, que Deus anima. 
  
Agora, sim - o espírito mais livre 
Pode subir às regiões supernas: 
Pode, ao descer, anunciar aos homens 
As palavras de Deus, também eternas. 
  
E vós, almas terrenas, que a matéria 
Ou sufocou ou reduziu a pouco, 
Não lhe entendeis, por isso, as frases santas, 
E zombando o chamais, portanto: - um louco! 
  
Não, não é louco. O espírito somente 
É que quebrou-lhe um elo da matéria.  
Pensa melhor que vós, pensa mais livre, 
aproxima-se mais à essência etérea. 


Junqueira Freire

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